quarta-feira, 22 de maio de 2013

senzalas

A raiva banguela crava os dentes 
que lhe emprestam no excesso injusto
Na senzala moderna, almas indigentes

juntam as migalhas que restam, a qualquer custo

rente

O que é suficiente?
O que enche as medidas, 
o que arrepia a pele, às escondidas
ou o humor eficiente?

O que é suficiente?
A sorte aleatória,
o caminho que traz, seja lá como for, a vitória
ou o gozo recente?

O que é suficiente?
O sucesso fugaz,
a juventude, a beleza física...tudo que um dia jaz
ou a sabedoria paciente?

O que é suficiente?
A imitação conivente,
chutar o balde, de repente
ou mirar no inusitado, ainda que passe rente?

sábado, 11 de maio de 2013

espelho

Se o espelho lhe mostrar um rosto estranho
Não se espante com o que não vê
O resultado de perdas pode ser um ganho

O que faltava há tanto tempo...pode estar em você

quinta-feira, 9 de maio de 2013

nosso som

Pelos tobogãs da vida, 
o convite é mesmo para subir ladeiras,
fatigar a mesmice,
espreguiçar a meiguice,
ao som de nós dois...

terça-feira, 7 de maio de 2013

charada

O verbo não é intocável
Ele deve ser rasgado, para que se multiplique, 
para que implique com os intocáveis
Roupa boa não é limpa, mas a suja que a gente lava,
que a gente cava para desenterrar e descobrir que ficou mais viva
Viva esse nosso jeito, que jamais enjeito, de abrir o peito e matar a charada,
de pegar na enxada e arar a nossa estrada, que nem tem acostamento,
porque nem em pensamento desejamos parar.

sem couvert

Hoje, é sem couvert!
Quero o prato principal.
Quero um castelo sem príncipes, por princípio.
E sem vassalos, até  o fim.
Limites?
Só para ultrapassá-los e convocar outros, em movimento infinito.
O que gosto não imito, não transformo em mito.
O que detesto...me irrito mas, depois, sigo o rito da purificação.
Hoje, em meus ouvidos, apenas aquilo de que jamais duvido:
a voz do vento, cumpliciando todas as artes que serei capaz de fazer.

sábado, 4 de maio de 2013

diálogo

Eu me vi diferente
Deixei de lado os espelhos e me olhei de frente
Nem herói nem covarde
Para ser um desses, já era tarde
Muita comida voraz 
E meu apetite era por algo a mais
Limites são fronteiras da liberdade,
para que seu território seja livre, de verdade

Silêncio profundo entre o sagrado e o profano
Mas o diálogo é possível, se não me engano

recriando

Quero te fazer sorrir, até perder o ar
Fazendo careta, rabiscando teu corpo, sem arranhar
Procurar-te em meus sonhos e acordado te achar
Trocar palavras por beijos, recriar milhões de desejos...
E em silêncio te amar !!

eu quero

A vida que me habita
me arrebata sempre e, às vezes, me irrita
A vida que me habita
lê Kafka, tem afta, é aflita
A vida que me habita
tem pressa, não dispersa, é superlativa
A vida que me habita
não manda recado, nem tem recato, é hiperativa
A vida que me habita
não gosta de burla nem de bula
A vida que me habita
ao ver uma injustiça...pula
A vida que me habita
não curte lero-lero
A vida que me habita
quando te vê, grita: eu quero !

Por que?

Por que ninguém entende
que somos diferentes de tantos?
Por que ninguém entende
que fazemos milagres, sem sermos santos?
Por que ninguém aprende
que nossa loucura é abençoada?
Por que ninguém aprende
com nossa ternura suada?

encaixa

Você se encaixa perfeitamente em minha caixa-preta
Por tão bem entender, nem interpreta
Roça o espinho e não espeta
Esquece da hora na hora certa

sui generis

Somos um casal muito estranho
Não nos punimos
Rimamos naturalmente
Amamos com o corpo e com a mente

Somos um casal muito, mas muito esquisito
Rasgamos todas as cartilhas
Só lemos o que nossas pulsões publicam
Nossos limites? Só nós dois sabemos onde é que ficam

particularmente público

Amor é substantivo gregário
Organiza-se em grupos, matilhas
Uiva, ladra e morde, mas sem machucar

Amor é roupa que não se guarda no armário
Mares que transbordam de copos e de corpos, tornando-os ilhas
Com o tempo, torna-se público e cada vez mais particular

enquanto isso

Você não é meu enquanto,
é encanto,
encontro com o canto,
que não parte de sereias,
que é parte do que percorre minhas veias,
minhas vielas,
que estufa as velas da minha imaginação...

fazendo arte

Seu olhar transborda,
pinta e borda
Atiça meu sono
e depois...me acorda !

estranho

O tempo é um estranho para nós
A eternidade que passa é vizinhança atroz
Desfilamos desejos que nos desfiam até o fim
Se eu não me tiver...o que será de mim?

Kant para cantar

Pensei que te amava por teus olhos de bordas infinitas
Pensei que te amava por tuas atitudes, cada dia mais bonitas
Pensei que te amava por toda a tua simetria
Pensei que te amava por algo que o coração me dizia
Descobri que o amor se antecipou ao pensamento
Que estava em mim antes de qualquer momento

precisão

Não preciso "de"
Preciso "com"
Sem descartar o "se",
conhecer o caminho é bom