sexta-feira, 30 de maio de 2014

viés

Quando canso de escalar,
ao invés de calar os pés, voo
E mesmo que o calo doa,
não mudo o viés e mais ainda me doo

terça-feira, 20 de maio de 2014

o encontro

Antes que que a vida se perca, que não ouse chegar ao fim
a coragem de arrancar todas as cercas que me separam de mim.

sábado, 17 de maio de 2014

a mola

Desabafa! Para que abafar o que engasga, o que rasga a pele da sensibilidade? Mas não te engasgues com o caroço da frustração.
Livra-te do que amola os dentes do ressentimento. Que todo pesar
não seja suficiente para que não fiques ciente de que há molas em
teu ser que te farão voar.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

my way

Nem sempre fui até o fim,

talvez por não desejar que ele viesse até mim.

Talvez um dia a gente se encontre, é uma hipótese que não rejeito...

mas será do meu jeito.

Paz

Pai, renasce amanhã. 
Não precisa pagar nada, só apagar o que não foi dito,
o que está restrito às fantasias daquela criança que mal cresceu.
Pai, renasce amanhã.
Não precisa ser nada, nem dizer nada, além de que eu conseguirei
nadar sem me afogar nos meus medos.
Pai, renasce amanhã.
Não traga pra mim um segredo, eu prefiro mesmo um brinquedo,
por mais simples que seja, e eu chamarei o tempo pra brincar comigo,
para ser mais meu amigo e deixar de simplesmente passar.
Pai, renasce a manhã.
Esquece de uma vez o adverso e escreve um verso bem bonito, para
que eu possa guardá-lo onde existem espaços. Deixa que eu ouça seus
passos do lado de fora, mas não vá embora antes que adormeçam os
outros ruídos, os daqueles silêncios doídos que eu não desejo mais
escutar.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

mães e mais

Há mães bem formais
E mães que são mais
Há mães que conhecem incríveis receitas de afeto
E mães que protegem a prole, mesmo sem teto
Há mães que fazem da dedicação aos filhos um ministério
E mães que jamais pariram, olha só que mistério
Há mães que, por não ter cartola, tiram coelhos do bolso
E mães que dão tudo que têm, sem pedir reembolso
Havia mães na Praça de maio gestando suas dores
E mães miscigenadas pelo amor, de todas as cores
Há mães que plantam e colhem os colos que abrigam
E mães que acolhem suas crias, mesmo quando brigam
Há mãe que coleciona calafrios, até ver o filho chegar
E mãe que aquece seus frios, antes do filho abraçar
Há mães que estão agora bem pertinho das estrelas
E filhos sentindo, de verdade, que jamais deixaram de tê-las

clímax

Eu quero a doçura mais louca
e a loucura mais doce
A imaginação com a voz rouca,
me arrepiando com o que talvez nunca fosse
Eu quero o suor escorrendo para cima
e a vergonha correndo para longe
A vontade determinando tanto o clima,
que nem o hábito me faria monge
Eu quero derreter feito vela
e ser aceso por sua presença iluminada
Quero que a razão se cale ao vê-la
e eu não precise dizer mais nada.

terça-feira, 6 de maio de 2014

à escolha

Deixe que as palavras a escolham. São elas que nos provocam, que sufocam a inércia, que fazem companhia às alucinações mais deslumbrantes. Antes, faça um afago em suas cogitações mais incogitáveis, considere firmemente as probabilidades mais improváveis.
Quando eu chegar a sua casa, que as duas estejam desarrumadamente aconchegantes, com propostas inocentemente indecentes, espalhadas por todo lugar, como habitualmente faz o luar. Almofadas e olhares sem mofo, intenções convergentes, urgentes. E esse aroma hipnótico de gente, que entra pelas minhas narinas e boca, que se sente oca até que a sua possa beijar.

antes e depois

Como é bom rir das deliciosas bobagens, das risíveis irresponsabilidades, ora responsáveis pela convicção de que eu estava (como estou) vivo e que interferia naquilo que me feria, transformando dor em ardor. Revivências assim rejuvenescem o rosto das pegadas, que
me afagam, sem me afogar. 
Delicioso descobrir que havia vida antes da vida e que, depois dela, mais vida haverá.

fora da moda

A moda e eu não nos entendemos. 
Não me visto como a maioria, nem invisto como a minoria.
Não excluo as minorias, como supostamente faz a maioria.
Tampouco suponho ser melhor do que ninguém, como crê a minoria.
Não estou na moda e isso não me incomoda.

panela de expressão

Preparo meus versos crus e destemperados na panela de expressão.