terça-feira, 31 de março de 2015

ponto, parágrafo

"Água nova rolando e a gente se amando sem parar". A vida que conhecemos (talvez haja outras) é muito bem retratada no verso do Chico. O rio que vemos não veremos mais. Para que tentar mumificar o que já se foi? O desapego é fundamental para que o novo aconteça,
dentro e fora da gente. A tecla F5 é ferramenta imprescindível a todos nós. Ponto, parágrafo! No mínimo, em alguns casos é melhor comprar outro caderno, criar uma pasta, fechar todas as abas, senão a saúde (bem-estar físico, emocional e espiritual) desaba. Diante de uma finitude, enlute-se, mas permita que o luto também morra. A sociedade em que estamos inseridos valoriza o sucesso, a performance, a exatidão. Podemos e devemos reagir e para isso percebamos que o paraíso é a inexatidão, a imprevisibilidade, a aceitação de que errar é bastante provável. A paz interior é o maior indicativo de sucesso e está muito mais em acariciar-se, a despeito da escassez, do que em saciar-se, a despeito do que se fez.

domingo, 29 de março de 2015

maçãs

Raul disse que quem gosta de maçã irá gostar de todas, porque todas são iguais. Mas a maçã não é só o que parece, é muito mais. Se duas pessoas ou se duas mil observarem a mesma maçã, daí resultarão mais de dois ou quase dois mil desejos diferentes. Sem contar os que serão indiferentes. Todas as coisas são elas e o que delas se deduz. Talvez por isso o que arrefece é também o que seduz.

domingo, 22 de março de 2015

fome de bandolins

Tropeçamos em tantos destroços que, por um momento, tememos que esse troço feio não tenha fim. A fome de poder poda coisas preciosas, mas não sacia a fome de beleza, nem a sede de paz. Mas como é que a gente faz?
É aí que eu peço à verdade faminta: não minta, por maior que seja a vontade. Por mais que também tropecemos, peçamos à nossa tropa de virtudes que perdoe a nós, que pecamos, para que não nos percamos do nosso bando de luzes e bandolins.

quinta-feira, 19 de março de 2015

crise

O que está no fundo de toda crise é a miséria humana. Uma espécie de miséria que acomete pessoas de todas as classes sociais. Sem encontrar o sentido da vida, busca-se desesperadamente um subterfúgio, um paliativo para o tédio de tudo e a ansiedade sem tamanho. Seguindo a cartilha capitalista, consome-se desordenadamente o que está ao seu alcance. E o consumismo é vício, que gera dependência, que gera mais ansiedade e mais tédio e mais vazios tão impreenchíveis quanto insuportáveis. A insatisfação crônica causa erosões profundas na autoestima. E esse estado de intolerância a si mesmo é alarmante. Quando o indivíduo não se ama, como poderá amar alguém? E se ele desiste de mudar, como poderá promover mudanças?

segunda-feira, 16 de março de 2015

onde está a inocência?

Onde está a inocência? Em meio ao tiroteio, pode estar perdida como as balas que buscam alvos fáceis. Os problemas são bem mais profundos que as supostas soluções, que cabem num pedaço de papel e no grito rouco de um cidadão louco de raiva. Legítimas a raiva e a loucura, bem como a rouquidão daqueles que não se sentem ouvidos. Mas solução,
repito, é bem mais que um grande soluço. O Brasil chora, por padecer de credibilidade, por parecer uma nau desgovernada (se não o for), sacudida por ondas gigantescas de lama. A alma da nação foi tão abalada, que as letras misturaram-se, formando outra palavra. De quem é a lavra de tanta safadeza, de todo o cinismo que circula por corredores e gabinetes? A resposta provavelmente não virá. O importante, o crucial é a esperança de que o povo não virará as costas para a História que só ele pode escrever. Mas sem trocar seis por meia dúzia, pois o que tem valor nesta vida não tem preço e a gente precisa aprender a preservar.
Onde está a inocência? Certamente, longe de quem avança sinais de trânsito, trafega pelo acostamento, joga lixo pelas janelas dos carros, mija nas ruas, fura filas, coleciona mentiras de todos os tamanhos, desrespeita o outro com o volume da música, comemora a vitória do seu clube com gol irregular, cultiva preconceitos, desaprende a ser gentil, esquece de amar..

quarta-feira, 11 de março de 2015

metal precioso

Sax é o único metal que me fascina